Impulsos e Convulsões - contus urbanus 
Carlos A. Casotti (2021)
Brochura, miolo em papel pólen soft 80gr, 148págs.
Capa em papel mi-teintes 160gr
Formato: 20,5x14,5cm.
Tiragem de 70 exemplares.
Com capa e mais 17 ilustrações do autor.

Disponível
R$ 35,00 (+ R$ 8,00 - registro módico)

"Crescendo na ilha da magia perdi de certa forma a magia quando completei quinze anos e mergulhei completa e profundamente na cultura obscura e marginal do mundo punk. O adolescente que até então se contentava com a vida pacata de colégio e praia de repente se viu “desperdiçando” as tardes e noites no calçadão da Felipe Schmidt ou bares da Conselheiro Mafra, bebendo vinho barato e trocando zines e cassetes com os poucos jovens de preto que ousavam odiar reggae e amavam a música mal tocada e ácida dos centros urbanos do país e mundo afora. Final dos anos oitenta e começo dos noventa foram marcados pelo punk manezinho de bandas legitimamente obscuras como Lixo Urbano, Sobreviventes do Aborto, Marcha Fúnebre ou Chute no Saco, pra citar algumas. Com 19 anos resolvi abortar a vida em família no Desterro e fui viver na capital paranaense, numa ocupação no bairro do Boqueirão. Durante quatro anos vivi lá como punk semi-mendigo tentando pôr em prática a utopia anarquista de um mundo sem regras, onde a rotina girava em torno das nossas bandas, nossa serigrafia, nossos zines e nossa insaciável sede por tudo que pudesse alterar a sanidade e sobriedade dos nossos cérebros jovens. Durante esse período surgiram histórias que mais tarde viraram metade dos contos que aqui se encontram... ou pelo menos o pouco do que pude me lembrar... Chá de Lírio não é exatamente o remédio pra perspicácia mental.

Em junho de 1999 me vi atravessando o oceano atlântico em busca de uma nova vida na Europa, mais precisamente: Londres. A mudança geográfica não impediu que levasse comigo meus sonhos bizarros de uma vida às margens de tudo e todos. Continuava morando em ocupações, os squatts, tocando em bandas ensurdecedoras e abastecendo nossas moradias com o lixo que a sociedade européia insiste em desperdiçar. O álcool e a enorme quantidade de comida trazida do lixo nos ajudava a suportar os longos meses de inverno... Os “bicos” num trabalho ou outro me davam a chance de sair e perambular pelos pubs londrinos atrás dos incontáveis shows punks que tive a sorte de presenciar. O manezinho vivia o sonho do “Johnny” em Londres e o pesadelo de uma vida marcada pela inconstância de uma mente inquieta e hostil.

A arte sempre agiu como metadona pro meu ego e alter-ego superarem os momentos de imensa crise existencial. Passei boa parte dos 19 anos que lá vivi desenhando muito. Desde capas de discos, cartazes pra shows, artes pra camisetas, tatuagens, até ilustrações pra livros e murais em parede. Metade dos contos que aqui se encontram foram escritos durante um inverno desses que passei em Londres, trancado no meu quarto com garrafas de uísque, palheiro, e uma máquina de escrever velha, porém resiliente, doada pelo meu amigo Ben.

Nos dias de hoje, o jovem de 42 anos que aqui lhe escreve se encontra, após quase duas décadas na “gringa”, de volta à ilha do Desterro. Vivendo um dia de cada vez cercado pelas canetas, as telas, as tintas e os discos, e através dos contos que aqui releio e reedito, tentando buscar a essência, ou sentido de uma vida dedicada a desaprender tudo aquilo que me foi ensinado. A tarefa é árdua pra mim e pra qualquer um que ouse tamanha afronta. Diferente do gato eu não tenho sete vidas, então por mais estúpidos e inconseqüentes que esses belos contos lhe pareçam, não se esqueça que só se vive uma vez. Intensamente insano, mas intensamente..." (Intróito do livro)


Contos deste volume:
Tributo à inimizade/ O mercado das frutas/ Um ato lírico/ Ambição/ Não tão Belo Horizonte/ Sonhar fede e custa caro/ Suomi/ Do Sul ao Norte/ O estupro de Brow Ale/ Matadouro/ A grande lingüiça.


  



  


    
      


 

Nephelibatas em movimento